Vivaz

Roubando com interferência a idéia de Platão - em formação ainda
Deve existir um mundo ideal - me perdoem
Só que eu acho que não está tão acima e tão intangível
Pouco menos que produto de estudos e esquecimento

Não
Deve estar em uma casa, diria pequena
Com uma sala onde há livros nas estantes, os certos
Alguns se perderam, mas isso já não tem mais importância
Alguns vinis, não muitos - somente de cantores que falaram algo em algum tempo perdido
Uma papelada burocrática motivo de riso
Retratos de gente querida
A casa um dia preocupadamente decorada, agora já descascando
E ficará assim até o fim dessa era
E alguns escritos, uns completos e publicados, obviamente

Dois homens acabaram de chegar do buteco Boêmia
Um com cancêr, o outro acabou de se divorciar
Daqui alguns dias ele vai ouvir que a ex-mulher matou o amante
Eles só jogam conversa fora, porque tudo dos livros já fora dito
Nem tudo, admito
E eles se deram conta da inutilidade da Academia
Só porque não aprenderam nada
Ou aprenderam tudo
São seres dolorosamente fragmentados, talvez
Nunca souberam manejar com mãos renascentistas o mofo e o mundano

Amanhã o divorciado vai trabalhar, e vai trabalhar até se aposentar
E depois vai morrer em um cruzeiro
Alguma criança vai ver na televisão que o corpo fora encontrado dias depois
E enterrado, dignamente
O doente viverá por mais alguns meses e também terá um enterro digno
Ambos enterros entraram em conversas de poucos dias que se seguiram
Para acabarem em pensamento veloz e infatigável no intervalo da novela

Carros passam
Um mulher grita
Eu bebo café
Depois de observar o teatro do centro da cidade reformado
E sentir o ar do passado sozinho e de óculos escuro
Vendo a travesti pedir cinquenta centavos
Os anjos do teatro, uma vez esculpidos com significado por mãos de paixão
Ficaram cegos, são apenas impressões perfeitas
Poderosos, sobre nós.

Fique sabendo que falo dos outros sem penetrá-los
Bebendo chá entro em mim às escuras.


Gian Luca