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30/09/2011

O Fato

A minha existência é ameaçada pelos fatos.

Eles são frios como os olhos de uma víbora:

Cercando, analisando e aniquilando meus sonhos.


A vida de um sonho tem os fatos como vísceras.

Sua vontade é calculada, concentrada

Cristalizada como as dimensões de uma estátua.


O fato é um corpo completo, auto-suficiente

Sem sutilezas, sem surpresas, engenhoso

Em sua exatidão animal.


Quanto está com raiva

Suas garras borram minha criação.

A caneta vira uma arma suicida,


Sem utilidade sob a destreza imbatível.

Seu poder me mutila,

Enegrece meu coração e entorpece meu cérebro.


Eu fui enganado pelas artimanhas dos fatos antes de criar.


Gian Luca.

Uma tradução: Sylvia Plath


Acordando no Inverno (Waking in Winter)

Eu consigo provar o estanho do céu – o verdadeiro estanho.

O amanhecer invernal é da cor do metal,

As árvores enrijecem no lugar como nervos queimados.

Por toda a noite eu tenho sonhado com destruição, aniquilações –

Uma reunião de gargantas cortadas, e você e eu

Avançando no Chevrolet cinza, bebendo o veneno verde

De gramados tesos, as pequenas lápides de tábuas,

Em silêncio, em rodas de plástico, a caminho do resort à beira mar.


Como os balcões ecoam! Como o sol ilumina

Os crânios, os ossos desatados encarando a paisagem!

Espaço! Espaço! Os lençóis da cama estavam se entregando totalmente,

As pernas do chalé se derreteram em terríveis atitudes, e as enfermeiras –

Cada enfermeira remendou sua alma de uma ferida e desapareceu.

Os convidados de morte não ficaram satisfeitos

Com os quartos, ou com os sorrisos, ou com as plantas artificiais.

Ou com o mar, silenciando as suas consciências descamadas como a Velha Mãe Morfina.


Sylvia Plath.


Duas traduções: Robert Lowell


Meia Idade (Middle Age)

Nesse momento o monótono inverno

Me alcança. Nova York

Atravessa meus nervos

Enquanto eu caminho

Pelas ruas mastigadas.


Com quarenta e cinco,

O que vem lá? O que vem lá?

Em cada esquina

Eu encontro meu Pai,

Ele tem a minha idade, ainda está vivo.


Pai, perdoe

As minhas ofensas.

Assim como eu perdôo

Aqueles que eu

Tenha ofendido!


Você nunca escalou

O Monte Sião, mas mesmo assim você deixou

Pegadas de dinossauro na crosta

Por onde eu devo caminhar.


Robert Lowell.





A Serpente (The Serpent)


No meu sonho, a minha barriga é amarela, almofadas

De marfim amadurecendo, esplêndido e ainda jovem,

Ainda que levemente áspera por minhas defesas.

As tiras das minhas costas, bronzeadas e verdes, são frescas ao toque.

Para alguém que sempre tenha amado cobras, não é perda alguma

Mudar de natureza. A minha queda foi em outro lugar –

Com que freqüência eu tenho feito mulheres se banharem em suas águas.

Com a luz do dia, me torno pequena, uma pequena cobra

Ao longo do rio, organizando a minha carga.

Assim como, assim como; assim como o relógio ressoa em sua volta completa,

E o caçador verde salta de curso em curso,

Uma nova trompa de bronze lança-se no seu cinturão invisível;

Ele está tateando por trutas no rio particular,

Onde quer que se abra, onde quer que aconteça de se abrir.


Robert Lowell.