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27/12/2010

Os Abutres Tem Fome (1969)



Já na época do declínio do gênero Faroeste, Don Siegel (Vampiros de Alma e Perseguidor Implacável) dirigiu Os Abutres Tem Fome, filme que tem como maiores destaques os diálogos afiados e a divertida relação entre o caubói Hogan (Clint Eastwood) e a freira Sara (Shirley MacLaine), um dos casais mais improváveis do cinema.

Tendo como pano de fundo a precária situação do México, quando o país estava lutando contra o controle da França, o diretor, apesar de lidar com uma situação grave, realiza um faroeste leve e sem maiores pretensões. Hogan salva Sara de um grupo de molestadores e descobre que a freira pode ajudá-lo a penetrar no quartel oficial francês que ele pretende roubar, já que ela está fugindo dos franceses devido a sua ajuda aos mexicanos. Até mesmo a trilha do mestre Ennio Morricone, apesar de memorável e forte, cria uma sensação de bem-estar e diversão. O perigo está lá, mas por muitas vezes fica difícil temê-lo, e no caso da obra em questão, essa é uma boa característica.

Digamos que o filme está mais para o jovial Butch Cassidy do que para os caústicos Era Uma Vez No Oeste ou Três Homens Em Conflito. Os diálogos entre a dupla são repletos de piadas relacionadas aos aspectos tão incomuns envolvidos (o maior deles sendo o fato de uma religiosa estar envolvida com um caubói, obviamente). Maclaine (sempre linda, até hoje) faz de Sarah um conjunto forte, simpático e por vezes quase etéreo (devido a sua posição em um ambiente tão inóspito) sob a bata e o crucifixo. O vigoroso Eastwood (até hoje) não muda muito o jeito durão, impertinente e irônico de qualquer outro faroeste que tenha feito, porém agora ele se mostra mais relaxado e cômico, enfim, o filme permite essa nova dimensão do forasteiro. Até mesmo os estímulos para o roubo do quartel fogem do padrão tradicional dos heróis do Oeste: Hogan não quer o dinheiro para comprar um rancho e criar cavalos, mas sim para construir um cassino em São Francisco, a grande cidade em ascensão (estamos falando do final do século XIX).

Algumas passagens são extraordinárias e memoráveis, como a comicidade e a tensão que envolve a explosão de uma ponte e as sensacionais performances da dupla, tendo o ápice quando Sara tenta tirar uma flecha de Hogan após um ataque indígena. Siegel cria uma seqüência sem pressa e bastante rica em conteúdo, dando preferência aos closes que mostram a grande aflição (e determinação) de Sara e a descontração aparente de Hogan.

O clímax, apesar de bem feito e até ousado (estamos ainda no final dos anos 60), é o que menos importa, na verdade. Quando chegamos a ele, Maclaine, Eastwood e Siegel já fizeram o melhor do filme. O título original faz muito mais sentido à atmosfera do filme do que o tendencioso título brasileiro, que carrega um peso negativo que o filme não possui.

23/12/2010

Staying

I have an infatuation
Not so big as nun's
Not so big as housewife’s
But big enough to carry you like bird
Into my crowded nest
But clean and hearty
Believe me (You have to).

I think I love you
Like I loved before
So few so young
I never got there
Probably I will never do
But I think I love you.

You are happy like a puppy
Keep like this
Smiling and showing your face like a toothpaste ad
It's good for me
To think that I'm all by myself
Like an old man in an asylum
With some soup, some sleep and talks

My family is still here
They still take care of me
Although I'm 30 and something (how old are we?)
Sometimes I fell ashamed and small
They expected a life for me
Not a sparkling one
Not a dazzling one
But a dignified one
You know, like lawyers have
Or butchers

Is this what really is?
What sort of thing did I create?
Did my brain do that?
Or was it obliged by some angel?
Is this a joke or a future?

You are plain like a cemetery
Gray and strong like a father
You are invincible
I’m dead
You couldn't take me
I'm too light
I don't have big problems
Nor issues

Let me stay her
Shut the door
My parents like you
But you can't come
Let me here
With my books
And my stained thoughts.


Gian Luca

20/12/2010

Prêmio!




O selo dos Prêmios Dardos, conferido a mim pelo blog "Diário Cinéfilo", de Victor Tanaka.

Regras:

- Exibir a imagem do selo no seu blogue;
- Linkar o blogue pelo qual recebeu a indicação;
- Escolher outros blogues para receber o Selo Dardos;
- Avisar aos escolhidos.

E os meus escolhidos são:

http://poesiatorta.blogspot.com/

http://azultemporario.blogspot.com/

http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

:-)

12/12/2010

Just a little

You smile and never cry.
Clean like movie-stars
Your money buying horses
And baby-sitters. You look
At me as if I were a hunchback
Who gives money to black beggars

You never cry. Your stupid
Giant mouths, fitting in brand new clothes
Like primary students.
I could put a dog in those mouths
But my hands are as empty as streets
Chew. Chew. Chew.
This is the only thing you know.

Your eyes once shone
It was probably the effect of my pink eyes
My gluey straigth eyes
And my heart, as big as Christmas.
When I left childhood behind
You died. And it was so soon!
You never expected.

You smile and never cry.
Yesterday shoes
Today sex
Tomorrow more tomorrows
I write faintly

You smile and never cry.

Gian Luca.

01/12/2010

Canção de ninar

Mamãe, mamãe
Eu nasci com cheiro de hospital
E você amou
Eu nasci quando você tinha 18 anos
E você amou
A sua vida estava completa
Você amou tanto que pensou que não poderia aguentar

Qualquer possibilidade de erro
Estava completamente fora de questão
Eu era recheado de azul, de nuvens, de silêncio
Parecia até que eu tinha o dom da vida
Talvez eu tivesse o dom da vida

O dom do sucesso e o dom do sucesso
Você me imaginou grande
Seu filho brilhoso como peixe
Seu filho grande como Hamlet
Você nunca leu Hamlet, mamãe
E você não está perdendo nada

Você me viu com maleta preta, sapatos pretos
Um carro grande e uma casa com piscina (como você ama piscinas!)
Um ir e vir calculado como esquinas
Uma mulher pequena iria me roubar de você
Mas você estaria feliz
Porque mulheres pequenas dão filhos quadrados
Como os vidros de seus perfumes

Quando eu tinha 12 você viu algo que te apavorou
Até hoje você não admite
Mas eu te apavorei
Foi pior do que aqueles bebês-ratos que você viu na cozinha
E algo aconteceu entre nós
Uma fissura terrível nos nossos corações
Os nossos corações nunca mais se encontrariam

Você passou noites se perguntando
Onde estariam meus amigos
Onde estaria a minha mulher pequena
Nem a lua te aquecia (você já viu a lua, mamãe?)
O sol te deixava doente
Você sabia que eu tinha matado meu futuro aos 12

Mamãe, mamãe boa
Como você suportou todos esses anos?
Ser seu filho foi o suficiente?
Você poderia ter me asfixiado
Mas você não é grande o bastante
Feitos grandes não cabem no seu grande coração

Nossos olhos às vezes se esbarram
Como freiras assustadas
Algumas partes dos nossos cérebros aindam tentam entender
O que há entre nós
Mas não há mais nada entre nós

Agora você me vê diminuindo como uma anoréxica
E a sua cicatriz não valeu à pena
Cicatrizes nunca são boas o suficiente

Não existe mulher pequena, mamãe
Nunca irá existir
Nunca irão existir filhos quadrados
Eu provavelmente não teria tempo

Você pode se agarrar naquelas fotos do convento
E ficar velhinha junto a elas
E até sorrir mais vezes
Você ainda tem chance, mamãe

Foi apenas um sonho, mamãe
Seu filho, seu filho
Nunca existiu.

Gian Luca