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09/05/2010
O Sol é Para Todos (1962)
Postado por
Gian Le Fou
Apenas na terceira vez que assisti O Sol é Para Todos eu percebi o quão riquíssima é a obra dirigida por Robert Mulligan e estrelada por Gregory Preck. Baseado no romance To Kill a Mockingbird da ganhadora do prêmio Pullitzer Harper Lee, o filme é, acima de tudo, um retrato da vida mostrada pura e simplesmente, sem graves distorções maniqueístas e principalmente, carregada de maturidade.
O ano é 1932, apenas três anos depois da Grande Depressão. Em Maycomb, uma pequena e preguiçosa cidade do Sul dos Estados Unidos, vive Atticus Finch (Peck), um pacato advogado viúvo que não mede esforços para poder servir o povo de sua comunidade afetado pela crise, aceitando até repolho em forma de pagamento pelos seus serviços. Ele tem dois filhos pequenos, a marrenta Scout (Mary Badham) e o esperto Jem (Phillip Alford). Os dois vivem em harmonia, tanto entre eles quanto com o pai, que por alguma razão apenas o chamam pelo primeiro nome. Os dois adoram imaginar histórias sobre Boo Radley (Robert Duvall), um homem que é sabido ter cometido um ato brutal contra o pai anos atrás e agora vive preso na casa da família. Enquanto Scout e Jem estão preocupados em invadir o quintal de Boo, Finch aceita defender Tom Robinson (Brock Peters), um negro acusado de ter estuprado Mayella (Collin Wilcox Paxton), uma branca humilde filha do temperamental Bob Ewell (James Anderson).
O filme foi realizado quando o Movimento dos Direitos Civis para os Negros Norte-Americanos (1955 - 1968) estava no auge. A população negra lutava por reformas na América com o intuito de acabar com a discriminaçãoo e a segregação racial que tanto manchou o país. Na época em que o filme se passa, ainda se erguendo da crise e sofrendo com a ascensão de regimes totalitários, o preconceito era palpável, explícito, a ponto de um negro ser motivo de riso e piada se sentisse pena de uma branca, por mais miserável que ela fosse, o simples fato de ser branco já era um ponto a favor de alguém.
Finch tenta manter todo o ódio e preconceito longe dos filhos, que só começam a tomar consciência da dimensão da situação quando o pai fica na frente da prisão onde Robinson está mantido para evitar um linchamento por parte dos habitantes da cidade. A situação é bastante confusa para Scout e Jem, que ao mesmo tempo em que conhecem a gravidade do preconceito, são parcialmente educados pela rígida porém adorável Calpurnia (Estelle Evans), a empregada negra da família. É interessantíssima a liberdade que Finch dá a Calpurnia para ensinar algumas lições aos seus filhos, mostrando o seu caráter desprovido de preconceito.
Além de lidar com a confusão de sentimentos em relação aos negros, Jem e Scout também repensam sobre Boo. Quando os dois encontram miniaturas suas feitas por Boo numa casca de árvore perto da casa dele, elas começam a imaginar como é Boo na verdade: seria realmente um louco psicótico como todos o pintam ou um ser humano tão íntegro quanto é capaz de ser? Tanto o caso de Tim Robinson quanto o misterioso Boo são o ponto de partida para o despertar das crianças para um conceito maior de ser humano e o que implica ser 'diferente' para uma sociedade sustentada pela ignorância.
No julgamento, a inocência de Tim Robinson é evidente, e o discurso de Atticus Finch é bastante claro quanto as motivações de levar aquele negro a júri popular em uma comunidade tão frágil. Nãoo havia nenhuma comprovaçãoo médica de que Mayella teria sido estuprada e seu depoimento, oscilando entre a sinceridade e o medo, apenas comprova a inocência do homem.
As atuações são outro ponto forte da obra. Brock Peters apresenta uma das performances mais intensas já vistas e Gregory Peck, que levou o Oscar de Melhor Ator, faz de Atticus Finch um homem contido e conciso, nunca se exaltando, nem quando leva uma cusparada na cara de Bob Ewell, limitando-se a pegar um lenço para limpar o rosto, tão incorruptível que seu personagem foi eleito o maior herói do cinema americano. As crianças também estão muito bem, Mary Badham dá vida a uma das crianças mais adoráveis do Cinema, e destaque também para Paxton, que interpreta Mayella de uma forma vigorosa e bastante convincente. O Sol é Para Todos é com certeza um filme de atuação, além ainda de contar com a mais bela fotografia em preto-e-branco já concebida e uma excepcional trilha sonora, que remete a uma tímida tristeza.
A película de Mulligan é uma obra completa, não se fazendo uso de situações ou momentos forçados em seu desenrolar, muitos podem achar o filme chato justamente por esse falta de 'tensão', se existisse, seria desnecessário e criaria uma falsa impressão de acontecimentos gratuitos em um ambiente inóspito para tal empreitada, e isso apenas comprova a sua maturidade. Os personagens passam suas vidas da forma mais natural possível, verão após verão, sem pressa, na poeirenta cidade de Maycomb, vivendo o que tiverem que viver.
1 comentários:
realmente "o sol é para todos" um grande e belissimo classico!gregory peck um grande ator (que infelizmente já morreu) brliha na sua interpretação de um advogado idealista que luta para defender um negro acusado injustamente por um crime que não cometeu.vou comprar o dvd desse filme e irei assisti-lo com muito gosto. pena não existir hoje em dia filmes com atuações tão magistrais e enredo tão bem construido como em "o sol é para todos".
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