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18/06/2010

Sete Noivas para Sete Irmãos (1954)

Stanley Donen, diretor (juntamente com Gene Kelly) do musical mais famoso e adorado de todos os tempos Cantando na Chuva, realizou, dois anos depois, o musical mais viril de Hollywood, não tão grandioso como "Cantando", porém detentor de ótimas qualidades, apesar do baixíssimo orçamento.

Filmado com a tecnologia CinemaScope, "Sete Noivas para Sete Irmãos" se passa em Oregon, em 1850. Adam Pontipee (Howard Kell) é um solteirão que vai até a cidade com um propósito claro: achar uma mulher para casar, tornando assim sua vida e de seus seis irmãos na fazenda onde moram menos difícil e solitária. Logo de cara ele é bem sucedido em sua busca: encontra em Milly (Jane Powell) todas as qualidades que procura: uma mulher linda, solteira e trabalhadora; logo os dois se apaixonam, se casam e partem para a fazenda.


Para o espectador que não está acostumado com romances cinematográficos dessa época, principalmente quando a obra é também um musical, pode estranhar a rapidez do casamento entre Adam e Milly, mas o propósito do filme (e de muitos outros dessa fase) não é a de se prolongar em situações como a de um homem conquistando uma mulher até ela cair de amores por ele, como Adam mesmo diz: - Lá no leste, eu te conheceria na igreja, seis meses depois sairíamos, depois ficaríamos noivos etc. A obra enxuga essa parte (de uma maneira deliciosa, realmente acreditamos no amor dos dois) e chega logo na etapa inevitável, uma decisão corretíssima para o filme em questão. A despeito dessa característica, o filme possui até um enredo bastante sólido se comparado a outros musicais da mesma época, como A Roda da Fortuna, Cinderela em Paris e Sinfonia de Paris.










A caminho da fazenda, Milly, sem ter conhecimento da existência dos irmãos do marido, começa a imaginar como será a vida do casal sem ninguém para pertubá-los, imaginando uma vida bem diferente da pousada em que trabalhava, com marmanjos pedindo comida e gritando a todo o momento. Em um bosque colhendo azedinhas e imaginando sua vida como uma moça casada, Jane Powell nos delicia com a canção Wonderful, Wonderful Day, uma das mais agradáveis do filme. Depois da surpresa desagradável da jovem ao descobrir que o intuito de seu casamento foi primeiramente para resolver os problemas enfrentados pelos irmãos, ela acaba perdoando a omissão do marido (claro, depois de uma linda declaração de amor de Adam), começa a organizar melhor todo o espaço e ensina aos cunhados valentões algumas boas maneiras paras conquistar jovens donzelas. Essa passagem da frustração de Milly para a aceitação é marcada pela canção Goin' Co'tin, quando ela percebe um belo futuro naquela casa. A obra, apesar de seu machismo escancarado, conquista o espectador por causa do carisma irresistível de Adam e seus irmãos.

O musical é permeado de canções agradabilíssimas compostas por Gene de Paul, seja nas vozes másculas ou nas vozes femininas de Milly e das outras jovens. Desde a canção Bless Yore Beautiful Hide até Spring, Spring, Spring, todas tem o tempo correto, sem se prolongarem demais; aparencendo nos momentos certo, não são canções 'gratuitas', elas estão em perfeita sintonia com o enredo da película. A canção Lonesome Polecat é, em minha opinião, uma das mais belas já produzidas para um musical. Na neve, cortando lenha e em uma sincronia divina, os irmãos dão o tom apropriado à letra belíssima (não se utilizando de palavras pomposas) e de uma sinceridade maravilhosa (apesar de haver também um certo machismo, mas completamente perdoável). A cena é bastante procedente com a proposta do filme, que foi a de não colocar marmanjos pulando e cantando nas montanhas, o que tornaria o filme bastante inverossímel, ao invés disso, os números musicais foram incorporados às situações pelas quais os personagens estavam passando. São momentos como esse que fazem esses musicais dos anos dourados serem tão únicos e mágicos.

Além das canções, "Sete Noivas para Sete Irmãos" também possui boas atuações, Jane Powell está muito bem como uma mulher sonhadora, mas ao mesmo tempo com os pés no chão, Howard Keel interpreta um galanteador viril típico (e muito charmoso), e os irmãos estão muito engraçados, mesmo não havendo uma exploração mais profunda em suas personalidades, o que também seria desnecessário. É impossível não fazer um paralelo com a animação Branca de Neve e os Sete Anões quando, por exemplo, os irmãos correm à mesa, esfomeados e sujos, na hora do almoço, a situação é drástica e engraçada ao mesmo tempo. Com a ajuda da Sra. Pontipee, eles logo se tornam homens com as unhas limpas, barbas feitas e bem arrumados (outro paralelo com "Branca de Neve"), e assim vão à uma festa da cidade em busca de companhias femininas.












A seqüência da festa é magnífica. Os figurinos são bastante criativos, cada irmão usa uma camisa de cor diferente e juntos eles criam um lindo contraste com os ternos sem vida dos homens aos quais as garotas estão primeiramente comprometidas, e as roupas ainda servem como uma diferenciação para a personalidade de cada irmão. A coreografia também é bastante interessante, dando destaque a uma disputa entre os irmãos e os homens da cidade, algo que remete um pouco às disputas em Amor, Sublime Amor. Os cenários também estão caprichados, apesar do óbvio fundo falso das montanhas, principalmente no número musical "Wonderful, Wonderful Day", devido ao já comentado baixo orçamento. Porém é incrível como esse fator não tira de forma alguma a magnitude do filme, que não fica devendo nada a outras produções mais sofisticadas concernente ao seu valor artístico, como My Fair Lady.

O terceiro ato é o mais hilariante e gostoso de assistir. Depois de penarem no frio do inverno, os solitários irmãos (sob a influência de Adam) resolvem raptar suas amadas. Os roteiristas fazem uma inteligente referência (e bastante explícita) a um mito da Roma Antiga, à do Rapto das Sabinas pelos romanos. Depois de raptadas, as garotas entram em choque e esnobam os Pontipees (os pobre coitados acabam indo dormir no celeiro), porém com o tempo e a chegada iminente da primavera, o amor acaba falando mais alto (a seqüência que começa com as meninas cantando June Bridge, ainda no inverno, e depois a chegada da primavera ao som de Spring, Spring, Spring é realizada com uma transição genial).

No fim, temos um final clichê e bobinho, mas isso é o que menos importa, "Sete Noivas" é um clássico do gênero, indispensável para os amantes de um bom musical.

3 comentários:

Victor Tanaka disse...

Adoro esse filme! É mesmo muito divertido e ótimo de se acompanhar. =P

Kley disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kley disse...

Um de meus musicais favoritos, e um dos que mais me encantou na infância e adolescência. Todos aqueles números musicais em meio a um colorido fantástico só nos faz ver mais explendidamente a magia do cinema.