Steven Spielberg, assim como Frank Capra e Alfred Hitchcock, tem seu nome tão conhecido quanto os filmes que produziu. Desde suspenses, como Tubarão, passando por vidas alienígenas em Contatos Imediatos de Terceiro Grau e o filme a ser criticado aqui, aventuras como Caçadores da Arca Perdida, até o nazismo, A Lista de Schindler. É um diretor que se mostra tão versátil em suas realizações (e habilidoso em todas elas) como George Stevens e Stanley Kubrick. Sua grande marca está no sentimentalismo que aplica nas obras e a aproximação que faz com o espectador.
E.T. - O Extra-Terrestre conta a história de um ser marrom, baixo e com um pescoço alongado que é deixado na Terra acidentalmente por seus companheiros de nave espacial. Ele logo é encontrado por Elliot (Henry Thomas), um garoto de classe média que vive com a mãe separada e dois irmãos, Michael (Robert MacNaughton), o mais velho, e Gertie (Drew Barrymore, uma gracinha na época, com apenas 5 anos), a caçula. Spielberg é mestre em nos deixar o mais confortável possível com a situação, antes de ET ser encontrado. O diretor nos apresenta uma casa grande e aconchegante, Elliot e seus irmãos com alguns outros amigos brincando numa grande mesa, brinquedos e jogos espalhados pela casa e uma pizza (que foi divertidamente pedida escondida de Mary - Dee Wallace - a mãe do trio) a ser entregue. Assim como em "Contatos Imediatos", o ambiente familiar de classe média (ambiente onde o próprio diretor fora criado) é o mais propício para uma situação inesperada.
Elliot não é o que pode ser chamado de "criança-problema", apesar de não se conformar com a separação dos pais e responder a mãe em algumas situações, ele não vai ser uma criança problemática que crescerá e aprenderá o valor da família com a chegada de ET e blá blá blá. Não é esse tipo de sentimentalismo que o diretor emprega na obra, o que seria terrivelmente clichê e maquineísta, pelo contrário, Elliot amadurecerá naturalmente por causa da situação, tornando seus sentimentos mais sólidos, em suma, ele vai crescer mais rapidamente, mas mantendo a inocência necessária para a idade.
Steven Spielberg constrói sem pressa a relação de amor que surge e vai se modelando entre ET e Elliot, o que explica as duas horas de filme, já que o encontro dos dois é feito nos primeiros dez minutos. O garoto começa mostrando objetos e explicando suas utilidades, a criatura, por sua vez, mostra aos poucos suas habilidades extraordinárias, como a capacidade de curar pequenas feridas, levitar objetos e pessoas e até falar! A frase "ET phone home" é com certeza uma das mais famosas do Cinema. Spielberg ainda nos diverte com cenas adoráveis, como ET brincando na banheira ou escondido entre os vários bichos de pelúcia da família e a engraçada comemoração de Halloween, com direito a uma homenagem a Star Wars, com a impagável "aparição" de Mestre Yoda.
É nesse ponto que o diretor está livre para fazer o que quiser, afinal, quem sabe quais são os verdadeiros poderes de alienígenas, se é que eles existem? É por causa disso que acabamos por acreditar em tudo o que está acontecendo na tela, inclusive a criação do comunicador, que na verdade realmente procede na vida real, agora se poderia se construído por um alienígena é outra história. Até mesmo a estapafúrdia dependência física e mental que surge entre o garoto e o extraterrestre é convincente, essa dependência é uma forma encontrada para mostrar a grande relação de amor que se estabeleceu entre os dois, e funciona, pois ao final do filme já estamos aos prantos.
Alguns aspectos da obra não são muito explorados, como por exemplo, a separação dos pais das crianças, ela serve mais como um pretexto para criar em Elliot (e também em seus irmãos, é bom deixar claro) um 'buraco' que será preenchido por ET, a influência da criatura não se restringe à Elliot, toda a família - inclusive sua mãe, que se mostra alienada antes de saber da existência dele - sofre uma modificação para melhor.
Já a parte técnica é impecável, a criatura, que já era maravilhosa na época, foi modificada antes do relançamento, em 2002, tornando seus movimentos mais flexíveis e, por conseguinte mais críveis. O filme foi todo remasterizado digitalmente e ainda novos efeitos especiais foram inseridos (o vôo de Elliot e ET na bicicleta nunca foi tão emocionante), e as armas dos agentes do FBI foram substituídas por walkie-talkies através da intervenção de computadores na fita original. E claro, não posso deixar de citar a trilha sonora magnífica do mestre John Williams, que criou várias das maiores trilhas cinematográficas, tantos em outros filmes de Spielberg, como "Tubarão" e "Os Caçadores da Arcar Perdida", como em "Star Wars" e Harry Potter.
E.T. - O Extraterrestre, citando as próprias palavras de seu realizador, é um filme que não envelheceu, ele se torna cada mais vez apaixonante, uma ótima opção para fugir da realidade cruel da vida por algumas horas e, quem sabe, voltar a ser criança. Uma fantasia admirável.
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3 comentários:
Teu belo texto é pura nostalgia, é um trabalho primoroso de Spielberg e altamente emocional!
Fico tão comovido com este filme, uma bela obra de Spielberg.
Me lembro bem qd estreiou no cinema, eram filas enormes. Da uma saudade mesmo, lendo este seu texto. E a cena das bicletas voadoras é um marco. Me lembro uma vez que eu estava numa festa no centenário, e no telão passou esta cena da fuga de bicletas Achei que só eu estava de olho no telão, paralisado. Qd as bicletas voaram, sobre os agentes, algumas pessoas aplaudiram e eu tb.
Foi um momento emocionante. Pq o som tava alto, e as pessoas ficaram vidradas no telão, foi demais.
A magia do cinema...de verdade.
Adoro este filme, meu 2º Spielberg preferido. Um clássico, que já é imortal.
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