Grandes filmes B: Footloose e As Bruxas de Eastwick

Ambos da década de 80, considerada a pior década do cinema devido à enorme produção de filmes apenas medianos, Footoolose e As Bruxas de Eastwick, cada um a sua maneira, transmitem com sucesso a parte boa dessa década.


Footloose (1984)

Dirigido por Hebert Ross, o filme que deu o estrelado para Kevin Bacon não deve nada aos contagiantes Grease - Nos Tempos da Brilhantinha e Nos Embalos de Sábado à Noite, da década de 70 estrelados por John Travolta.

A obra conta a história de Ren McCormack (Bacon), um estudante de Chicago que se muda com a mãe para uma cidade pequena onde a população parece viver na Idade Média: livros são queimados ou proibidos, dançar é proibido e ligar o rádio na rua para se divertir está fora de questão. Todas essas proibições são regidas através da pregação fanática do Reverendo Shaw Moore (John Lithgow), cuja filha Ariel (Lori Singer), tenta de esquivar de todas as maneiras do rótulo 'filha do pastor'. Quando Ren decide quebrar as regras e montar um baile para desafogar aqueles jovens da monotonia, ele vai ter que enfrentar a fúria de Moore e de outros fanáticos.

Footloose me surpreendeu por não ser um filme vazio sobre dança, apesar da própria obra vender essa imagem. Há uma discussão interessante sobre as estranhezas das cidades pequenas americanas, frutos do puritanismo que foi base da construção da América após a independência. Incrível como um país cuja cultura dominou (e ainda domina, ainda que em menor grau) o mundo seja repleta por esse tipo de repressão, medo e paranóia.

O filme, é claro, não deixa de ser bastante divertido. Há poucos números de dança, a diversão e a comédia ficam mais por conta das atitudes dos personagens em torno de Ken e de Moore e da trilha sonora marcante. Kevin Bacon se mostra seguro e as cenas em que dança são inspiradoras e cheias de vida. O filme tem um forte apelo na linha Juventude Transviada, visto principalmente no racha de tratores e obviamente no jovem 'deslocado', logo, mal-recebido pelos habitantes.

Outra mui felizarda característica são os diálogos pouco clichês e atores afiados. Características que hoje em dia, em filmes como esse, são quase um milagre. Footloose é uma pérola redondinha que merece ser visto.




As Bruxas de Eastwick (1987)



Deliciosamente bizarro é a melhor definição para essa obra dirigido por George Miller e que conta com quatro estrelas de primeira: Cher, Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer e Jack Nicholson, todos em perfeita sintonia dentro de um enredo consistente, trágico, sensual e cômico.

Alexandra, Sukie e Jane (Cher, Pfeiffer e Sarandon, respectivamente) se reúnem todas as quintas-feiras à noite para beber e papear, o único momento que as meninas tem para relaxar. O problema é que o assunto sempre acaba no mesmo tema: homens, algo que as três tem bastante dificuldade de conseguir (ou manter). O que as amigas não sabem é que elas possuem um dom peculiar: se elas imaginarem juntas a mesma coisa, essa coisa se realiza! Antes de se tocarem que são 'bruxas', as solteironas entram em um jogo de imaginar um homem perfeito que virá para Eastwick resgatá-la da monotonia de suas vidas. E o homem aparece. Daryl Van Horne (Nicholson) chega para arrebentar tudo, com seu jeito sexy, canalha, bruto e sincero, ou seja, tudo o que as mulheres gostam mas não admitem.

A obra discute com eficiência os anseios e desejos do sexo feminino em relação ao seus parceiros. Com a chegada de Horne, há uma deliciosa descontrução apoiada na desilusão provinda do 'nada é perfeito', nem mesmo quando se tem um poder sobrenatural para a realização de algum desejo. Há varios momentos incrivelmente divertidos, principalmente quando as amigas estão reunidas. As atrizes mostram uma sintonia extraordinária e Cher é sem dúvida um grande atriz. A cantora transmite uma naturalidade incrível em cada palavra que pronuncia, e sua postura durona com jeitão italiano é extasiante (ela ganhara o Oscar de Melhor Atriz por Feitiço da Lua, merecidíssimo). Sarandon é muito divertida ao longo de sua transformação de professora do primário para porra louca e Pfeiffer, com tom de voz suave, exala beleza e sensualidade na dose certa para uma mãe de família. Já Nicholson tem um papel aloprado apropriadíssimo para a veia delirante inata do ator.

As Bruxas de Eastwick possui momentos um tanto forte demais, principalmente no que concerne as atitudes de Felicia Alden (Veronica Cartwright), que entra numa paranóia sensitiva quando as mulheres passam a frequentar a mansão de Horne. O humor negro é pontuado por essas passagens e uma sensação de mal estar pode ser causado por elas, há uma notável divergência quanto ao tom que o filme promete de início. As cenas de vodoo também são bem estranhas, só que mais coerentes. Entretanto, o resultado final é muito positivo com um roteiro um tanto original.