Lady GaGa: Será que ela finalmente merece o sucesso que carrega?

Em relação ao trabalho visual de Lady GaGa, até agora, houve basicamente (salvo Paparazzi) uma mistura nada elegante de músicas pop com conteúdo regular (acima da média, devo admitir, se comparado ao trabalho atual de outras do ramo como Britney Spears e Beyoncé) com uma bizarrice forçada e sem elementos potencialmente envolventes que caracteriza uma boa artista do gênero. Bad Romance, apesar de ser vibrante, é modulada por um clipe sofrivelmente destoante e sem fluidez. Telephone, que começa de uma maneira extraordinariamente criativa aos moldes de um filme de Quentin Tarantino, vai perdendo a força ao longo dos seus intermináveis dez minutos e carece da criatividade prometida e sem nenhum carisma orgânico, o vídeo assim se tranforma numa mistura mal feita do clipe Music de Madonna com Kill Bill.

Eis que surge o salvador da pátria. Em seu mais recente vídeo, Alejandro, Lady GaGa surpreende ao se desprender notoriamente de quase tudo o que vem fazendo desde que alcançou o estrelato meteórico. Alejandro não é só uma canção que levemente nos transporta de volta aos anos oitenta e à Isla Bonita, um dos maiores sucessos de Madonna, como também fornece ao fã do pop que não gosta de ter sua inteligência ferida um dos melhores videoclipes dos últimos anos.

Assistindo ao mini-filme, o espectador que conhece (ainda que superficialmente) a carreira de mais de um quarto de século da ex-Material Girl, percebe facilmente quase uma dezena de referências ao seu trabalho ao longo de todos esses anos. Só para citar as mais óbvias, podemos notar Evita, Vogue, Express Yourself, Like a Prayer (principalmente a versão da turnê Blonde Ambition) e Justify My Love. Entretanto, ao invés de oferecer cópias gratuitas e descuidadas, GaGa eleva Alejandro à um patamar pop sofisticado e equilibra quase que perfeitamente todos os aspectos abordados (infelizmente a reta final é um tanto repetitiva). Mas é claro que a cantora é esperta o suficiente em não deixar a sua 'marca' se perder em meio à essa aparente precoce e necessária virada na carreira.

A artista carrega um coração à frente de um ritual fúnebre (suspiros pouco antes da música começar nos lembra a perda de fôlego de Santine em Moulin Rouge), engole um crucifixo sensualmente enquanto está vestida de bata religiosa (onde há maliciosamente um crucifixo estampado na frente da genitália), age como dominatrix (palmas para a sua perfomance ativa) e é dominada. Talvez GaGa não choque como Madonna fez há vintes anos ao simular uma masturbação em plena turnê da supracitada Blonde Ambition ou nos clipes Justify My Love e Erotica, mas provavelmente essa nem seja a sua intenção, seria pretensiosa demais.

Agora, que Lady GaGa conseguiu polemizar dentro dessa sociedade imergida num mundo pop cada vez mais apático, ninguém pode negar. Resta saber se Alejandro é mesmo um prelúdio para a exploração de temas controversos (e se a cantora continuar nesse nível, a chamada 'nova Madonna' talvez não seja um sacrilégio tão grande assim) ou se é apenas um momento esporádico e genuinamente criativo de uma cantora que até o momento não mostrou nada além da tão comum mediocridade mascarada. E quanto à bizarrice, é melhor Lady Gaga deixar esse lado para Bjork, que é um gênio do ramo.


Para ver o clipe: