Você me estancou, meu querido
Você me estancou com vontade
Você me estancou como se eu fosse uma mulçumana
Como se eu não fosse feita de luz
Como se eu fosse uma boneca nova
Você me estancou e meu azul virou uma pérola
Eu passei anos aninhada como alcatrão
Sombras, sombras, sombras
E os espinhos crescendo como bebês
Você com essa sua cara de trabalhador, honesto
A sua luz é luz de farol, de máquina, de motel
A minha luz é pura como a da Virgem
Mas você a estancou
Passei anos fechada como um ovo que não apodrecia
Eu estava grávida de um hipopótamo
Ou de um esquilo
Ou de um formaldeído
Nem o sal melhorava meu enjôo
E olha que eu tentei
Eu pensei que aquele nosso quarto iria nos devorar
Como as mães devoram os filhos
Você estaria dormindo, é claro
Você dorme como uma enfermeira
Você dorme como um homem
E eu sou a árvore negra e a árvore negra
Os frutos verdes e vermelhos – Os frutos pretos
Uma árvore natalina
Eu consegui fingir por muito tempo
Eu finjo como uma dona de casa
Mas a minha luz tem água
Você esqueceu de me secar
Como as mães esquecem os filhos
E você, branco cálcio
É de material utilizável
Você não é totalmente imprestável
Eu te curei, eu te curei
Com os meus galhos eu vou te agarrar
A Lua morta nem liga
Ela está ocupada em ser eterna
Algo vai se partir - Alguma coisa sempre se parte
Em nós
Você irá ser destruído apesar
Acetileno acetinelo
Se foi como o degelo
Lento como a morte
Você não é mais meu polônio
Agora a minha luz jorra como Chernobyl.
Gian Luca
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