O poema abaixo é o primeiro dos três que compõe o trabalho fotográfico/poético:
Um questionamento
Ele tem uma habilidade imprestável
Invejável? Talvez -
Ele sabe se isolar muito bem
Poucos seres humanos têm a coragem
Eu não vou dizer que ele não sofre
Eu não vou dizer que é apenas um processo
Eu não vou dizer que é para sempre
Ele se isola – E pensa, pensa, pensa
Eu acho que na rua, em casa, no trabalho, com os amigos
Ele se veste muito bem de ser humano
Faz parecer real, faz parecer mágico
E as pessoas o suportam com certo interesse
Mas eu acho que ele não quer ser apenas suportável
Ele tem uma meta falsa a cumprir
Aquela meta que as pessoas matam no berço
Ele a deixou escapar – O acaso é um puto, às vezes
O quarto é mais que um quarto
Só ele sabe – Só ele sabe muita coisa
Metafísica, Deus, pessoas, futuro
Não, ele não sabe sobre isso. Não
Ele se vestiu como um artista de cinema
Ou como um tolo
Uma espécie de desejo infantil
Acho que todo gênio é infantil
Eu acho mesmo é que ele se cansou lá de fora
Ele se cansou de engolir faróis, gente, responsabilidades
A boca pequena engasgando radiação
Um câncer de nascença e uma família para curar
Expelido como deuses num mundo velho
Sem poesia, sem desejos, sem sexo, sem destruição
Apenas passageiros balançando moles como bebês
E ele duro e selvagem como uma imagem
O quarto não é uma saída
O quarto também faz parte daquele mundo
Pequeno mundo, não-mundo, real mundo
Aos poucos caindo nas garras pretas do nada
Como o nada o persegue! Um abutre estufado!
Vestido de mentiras, de crianças, de justos, de mães
O seu único apoio sincero um guarda-chuva
Mudo e confiante como uma viúva
O telefone naquele recipiente de certezas
Estava pela metade (tudo está pela metade)
Ele tinha comido os fios – os cordões umbilicais
Revirando no seu ventre como um futuro infectado
Que o deixou estéril como uma estátua
Como a vida não foi o que ele queria!
Vida? Que vida?
Como ele queria que a vida tivesse sido?
Tudo, menos aquilo que é – Ou aquilo que seria provavelmente
Com esperança, sem esperança
A espera é a mesma
Os homens estão condenados a esperar
Amanhecer, anoitecer, morrer, o sol
Santo ou Chaplin – Naquele quarto é tudo a mesma coisa
Na verdade tudo é a mesma coisa a todo o tempo
As mesmas doenças, as mesmas decepções, os mesmos empregos
As mesmas desilusões, os mesmos sonhos, as mesmas percepções
Vamos encarar: o mundo é um saco de anjos
E ele, real demais, demais!
O problema dele sempre foi ser real demais
O mundo não suporta pessoas reais
As pessoas reais não suportam as pessoas reais
Ele é, ele é – Um grande deus
Uma máquina perfeita de ossos e brancura
Estendendo-se sem avidez e apático como um tapete
Como um homem de sucesso
Só eterno e insuportável.
3 comentários:
Adorei o q está escrito. Escrevo em verso, se quiser ler... http://pensadoenaodito.blogspot.com/
Interessante, foi bem legal a exposição :D
[]'s
ENTÃO O MODELO ÉS TU?! CONHECI O GIAN...FINALMENTE,ESTAVA CUIROSA PARA "CASAR" CARA E POEMAS...É ESTRANHO TU ÉS UM MIÚDO...ÉS MUITO EXPRESSIVO...GOSTEI BASTANTE...
O POEMA É PESADO...E FICO COM A IDEIA QUE ÉS MUITO NOVINHO E MUITO AMARGURADO... ESTAREI ENGANADA?
SAUDADES MINHAS TAMBÉM
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