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14/10/2010

Uma sedução

Você me estancou, meu querido

Você me estancou com vontade

Você me estancou como se eu fosse uma mulçumana

Como se eu não fosse feita de luz

Como se eu fosse uma boneca nova

Você me estancou e meu azul virou uma pérola


Eu passei anos aninhada como alcatrão

Sombras, sombras, sombras

E os espinhos crescendo como bebês

Você com essa sua cara de trabalhador, honesto

A sua luz é luz de farol, de máquina, de motel

A minha luz é pura como a da Virgem


Mas você a estancou

Passei anos fechada como um ovo que não apodrecia

Eu estava grávida de um hipopótamo

Ou de um esquilo

Ou de um formaldeído

Nem o sal melhorava meu enjôo


E olha que eu tentei

Eu pensei que aquele nosso quarto iria nos devorar

Como as mães devoram os filhos

Você estaria dormindo, é claro

Você dorme como uma enfermeira

Você dorme como um homem


E eu sou a árvore negra e a árvore negra

Os frutos verdes e vermelhos – Os frutos pretos

Uma árvore natalina

Eu consegui fingir por muito tempo

Eu finjo como uma dona de casa


Mas a minha luz tem água

Você esqueceu de me secar

Como as mães esquecem os filhos

E você, branco cálcio

É de material utilizável

Você não é totalmente imprestável

Eu te curei, eu te curei


Com os meus galhos eu vou te agarrar

A Lua morta nem liga

Ela está ocupada em ser eterna

Algo vai se partir - Alguma coisa sempre se parte

Em nós

Você irá ser destruído apesar


Acetileno acetinelo

Se foi como o degelo

Lento como a morte

Você não é mais meu polônio



Agora a minha luz jorra como Chernobyl.

Gian Luca

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