O começo
Agora Você terá outra chance
Aqui na minha terra
Eu sou a Santíssima Trindade
Ou mais, mais, mais
Hoje podemos ser tantas coisas!
A começar pelo Éden:
Uma costela não é nada enigmática
Na verdade é muito vulgar
Então, por favor,
Arranque um pedaço do cabelo de Adão
E entregue a Eva
Ela cuidará dele obsessivamente
Continuará sendo vulgar, eu sei
(Todas as mães são vulgares depois dos 40)
Mas nós iremos fazer piada no futuro
Com a nossa frágil mitologia
Acho que já está na hora de tirar a maldição da cobra
Ela já sofreu preconceitos por muito tempo
E pelo eu sei, Você não é um homem preconceituoso
Então porque colocar o peso da humanidade naquelas costas oleosas e sem vida?
É pior que afogar cachorrinhos
Não, não, não
Tire a maldição da cobra
E coloque em uma erva daninha qualquer
As plantas são mais compreensivas
Nada de Caim matar Abel
Isso é pior que novela mexicana
É melhor Abel se apaixonar por Caim
Assim teremos menos um problema infame
(Todos os problemas são infames antes de começarem)
Satã, com sua bunda gelada sentado no trono,
Não é um anjo caído
Ele sempre foi um rei
Assim como Deus sempre foi um rei
Nenhum dos dois precisa de história
Ninguém sem um passado pode ser destruído
É por isso que as crianças são felizes
O meio
Já está na hora de mudar a fama de Herodes
Ele estava muito ocupado se masturbando
Para mandar matar aquele monte de bebês
Vamos simplesmente dizer que ele estava cuidado de assuntos do Estado
E deixou o menino nascer sem mais problemas
Um acaso como aqueles da Inglaterra
Mantenha a pobreza Dele
Isso dá um aspecto vigoroso
Apesar de pouco prático
No tempo que ele ficou na marcenaria
Poderia ter efetuado mais milagres
Uma espécie de Merlin verborrágico
Mas transforme Maria em uma mãe superprotetora
Assim ela ficará menos indiferente à fuga dele aos 12
Afinal ela não foi chamada de prostituta
Para depois deixar o filho escapar como menstruação
Precisa haver uma despedida forte, porém sem lágrimas
O anjo estraga-prazeres pode acompanhá-lo
O menino só tem 12 anos
Ele não pode ser tão forte assim
(A força é uma ilusão dos fracos)
O grande retorno será para resgatar Maria Madalena
Aquela das mechas longas - teias sibilantes
Uma cigana fora do seu nicho colorido
Esperando seu amado para se tornar uma bruxa
E dar a luz a 12 meninos perfeitos
Uma imagem patética como o gigante de Carrington
Cada apóstolo cresce como uma rolinha
Madalena os amamenta e Ele faz o papel de pai
Consegue um trabalho em uma marcenaria
E não há nenhum milagre durante quase vinte anos
Apenas uma família comum, festas sem vinho e mortes naturais
Cada filho cresce com uma característica peculiar
Mas obviamente a de Judas, o filho do meio, é a mais importante
Nada poderia ser feito para mudar aquele filho
Era algo tão forte que a única coisa que Ele poderia fazer
Era abandonar a família e cumprir seu papel que terminou aos 12
O mundo então muda outra vez
Imperceptível como a velhice
Uma fornalha onde as pessoas entram por vontade própria
Verde de ganância guiadas pelo barulho da serpentina
Morrer é realmente uma arte
Ele não veio para trazer a vida
Mas para trazer a morte
A questão sempre foi a morte e o reconhecimento
Ele apenas escondia isso com suas mãos encarecidas como vinagre
E seus olhos da madrugada
A maledicência de Judas cresce como um câncer
E logo os soldados descobrem tudo sobre o seu pai
A crucificação não faz sentido para Madalena nem para seus outros filhos
(Porque as mães e os filhos nunca sabem de nada?)
O que Ele estava fazendo enquanto estava fora?
Porque disse que iria comprar carne e não voltara mais?
O que o governo tinha a ver com tudo aquilo?
Onde estava Judas?
O que era aquela agitação toda?
Aquela tempestade era
Uma nova era
Silenciosa como uma troca de discos.
E então veio a escuridão do sangue.
O fim
O nosso momento começa depois de Hitler
O segundo Messias:
Depois da Grande Queda
A compaixão se tornou um órgão humano
A compaixão se tornou o grande trunfo do nosso século
Junto à descrença, ao amor e à amizade
O suicídio nada mais é do que todos esses sentimentos juntos
Todos os começos são fatídicos
Os judeus empilhados são as nossas estrelas recém-nascidas na noite morna
A radiação, aquela raposa, são as nuvens em forma de novos brinquedos
Fornecendo oxigênio para os nossos escritórios deformados
Rastejamos pelas barras de ferros
E entramos em nossas cavernas decoradas
Espaçosas como o útero
Depois, depois
O suicídio se tornou a forma mais elegante de se viver
(Caminha-se no fio de náilon mais elevado bebendo whisky)
Nós nos tornamos o nosso Deus
Sufocados com tanta divindade
Sem história e sem família
Apenas uma luz de sempre
Sem passado, sem poder ser destruída
Derradeira como a impressão de uma cobra
Deslizando, deslizando
Fugindo do grito como em sonho
A imperfeição é horrível
Ela nos dá filhos mutilados:
Velhos, indigentes e descrentes
Somos os pais de todo o mundo
Em nosso eterno circo de amor
Porque não podemos parar de amar?
Porque não tentamos uma nova abordagem?
Estamos mesmo destinados a nos matar pelos outros?
Naquele dia tudo realmente mudou?
O que ele fez, afinal?
Nos impregnou de amor?
Quem permitiu a mudança de curso?
Quem permitiu que nós enxergássemos?
Antes, antes
Estávamos bem com os nossos reis de três olhos
E nossas ambições ciclopianas.
Gian Luca
1 comentários:
muito boa essa sua reflexão e foi uito criativo essa sua intertextualidade com elementos biblicos e historicos! parabéns e sucesso!
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