Reunião
de Família
Lá
fora na rua eu escuto
Uma
porta de carro bater; vozes para um ouvido astuto
Trechos
estranhos de conversas
E
sapatos tiquetaqueando na travessa
A
campainha rasga o sol vespertino
Com
unhas de navalha;
Uma
pausa imperceptível.
O
barulho embotado dos meus pulsos
Luta
contra um silêncio que se esgota
Alguém
de dentro abre a porta.
Ó,
ouça os sons das pessoas que se encontram ---
As
gargalhadas e os gritos dos que se amam:
Eternamente
gorda e sem ar
Um
beijo gorduroso em cada bochecha
Da
tia Guiomar;
Olhe
lá, lá está a rosadinha, que vive dando gritinhos
Prima
Jane, a solteirona
Com
olhos apagados
E
mãos que nem nervosos passarinhos;
Enquanto
isso, parecendo madeira estilhaçada, tio Paulo
Atravessa
a sala
E
com sua voz desagradável
Conta
detestáveis piadas.
O
sobrinho mais novo geme irritavelmente
E
baba na fila de doces como um demente.
Como
um mergulhador numa região elevada
Eu
fico em pé no último degrau da escada
Um
redemoinho diz que vai me dar sorte,
Eu
me despeço da minha identidade
E
mergulho para a morte.
Family
Reunion
Outside in the street I hear
A car door slam; voices coming near;
Incoherent scraps of talk
And high heels clicking up the walk;
The doorbell rends the noonday heat
With copper claws;
A second's pause.
The dull drums of my pulses beat
Against a silence wearing thin.
The door now opens from within.
Oh, hear the clash of people meeting ---
The laughter and the screams of greeting :
Fat always, and out of breath,
A greasy smack on every cheek
From Aunt Elizabeth;
There, that's the pink, pleased squeak
Of Cousin Jane, out spinster with
The faded eyes
And hands like nervous butterflies;
While rough as splintered wood
Across them all
Rasps the jarring baritone of Uncle Paul;
The youngest nephew gives a fretful whine
And drools at the reception line.
Like a diver on a lofty spar of land
Atop the flight of stairs I stand.
A whirlpool leers at me,
I cast off my
identity
And make the fatal plunge.
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Ouça a narração (no original) do poema no vídeo abaixo. A voz que o narra é belíssima, bem diferente da voz de Plath, forte e cruel (e que é maravilhosa também).