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03/10/2010

De branco

Há um terror branco como uma cera
Ainda em forma líquida
Solidificando-se como um feto
Uma espécie de conhecimento proibido
Proibido

Ele pesa em mim como uma vaca morta
Eu pari essa vaca
Dei de mamar
Abençoei
Vi-a crescer, sorrir, amarelar
E não fiz nada
Agora ela está morta
Morta sobre mim

A morte grudou em mim como uma sanguessuga
Ela sempre precisa de mais uma
A morte instalou-se na minha casa e em mim
Como uma tia cadeirante

Toda noite ela flutua
E drena meu sangue usando uma taça de ouro
E, como a outra, ela deixa meu marido em paz
Paz, paz, paz
Ela consegue a proeza

Meus filhos ela nem conhece
Não faz questão
Ainda são muito novos
Eles brincam como espuma, como orvalho, como pássaros
Ainda há tempo

Eu, Lucy, de branco limpa
A enganada
Os médicos não sabem de nada, de nada
Eu os expulsei como se expulsa uma enfermeira
O caçador, aquele patife
Muito menos
Ele brinca de frascos

O dia inteiro
Eu vivo para recuperar meu sangue
Que irá ser drenado de novo, e de novo
E eu sei disso
O pior é que eu sei

Se ao menos eu pudesse renascer
Aquela que destruiria tudo como o vento
Aquela que esqueceria marido, filhos, casa
Os ossos obsoletos

Aquela, aquela, aquela
Que viveria nas sombras, nas sombras.

Gian Luca

2 comentários:

CM Tricoloko disse...

Apesar de não curtir muito blogs de poesia, eu gostei desse.. bem organizado =D

prbns pelo post

Adriano disse...

Eu não curto poesia... é dificil eu ler uma e gostar...