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05/08/2010

As Pontes de Toko-Ri (1954)


A Paramount vem lançando vários clássicos americanos, tantos os mais renomados quanto os menos conhecidos (principalmente pelo público brasileiro). As Pontes de Toko-Ri, do diretor Mark Robson, faz parte do segundo seguimento. Pode ser visto como um clássico menor, mas que vale a pena ser conferido pela maneira incomum da exploração dos envolvidos a partir do contexto histórico, extraordinários planos-sequências e uma gama de atores de primeira bem inspirados.

A obra é situada no auge da Guerra da Coréia. Harry Brubaker (William Holden) é um piloto da marinha que, apesar de desejar ser afastado do serviço, é obrigado pelos superiores a continuar no posto, e pior, ele ainda é designado para destruir duas pontes (de Toko-Ri) e assim enfraquecer o inimigo. Brubaker tem uma mulher (Grace Kelly) e dois filhos pequenos, que precisam lidar com a ausência do patriarca e como uma família exemplar, apoiá-lo incondicionalmente, nem que para isso eles precisem, como dizem, 'tapar o sol com a peneira', e encarar os atos do piloto como sendo atitudes heróicas. Afinal, é da guerra que estamos falando.



O filme toca na delicada questão de muitas esposas de soldados ficarem alheias à guerra (os filhos ainda são muito pequenos), principalmente por opção, é a negligência velada que diminui o sofrimento, especialmente na época a qual nos referimos. Quando a personagem de Kelly é confrotada (e confortada) pelo superior do seu marido, que a deixa a par do missão do piloto, a mulher não consegue conter as lágrimas e a desilusão guardada, que finalmente aflorece. Entretanto, ela não deixa de tentar levar a vida normalmente, tomando banho de piscina com a família e dividindo a recreação com uma família coreana (Sim, nós somos uma família feliz!).



Mickey Rooney dá vida ao piloto salva-vidas Mike Forney, que em uma de suas perigosas missões, resgata Brubaker do mar, quase congelando. Forney é um personagem interessantíssimo pela sua dualidade instigante. Apesar de prover alívio cômico (ele sempre usa um histriônico chapéu verde na hora de resgatar os combatentes, como forma de ser reconhecido o mais rápido possível pelas vítimas e aliviar o desespero), Forney se apaixona e como não é correspondido, mostra-se um tanto violento e perdido no tempo em que está de folga, causando brigas nas ruas de Tokio e até sendo preso. A essência do homem fincou-se no helicóptero, no alto-mar, na guerra, razão de sua vida naquele período, que obviamente se apoderou da grande parte de sua existência (o mais recente ganhador do prêmio Oscar de Melhor Filme, Guerra ao Terror, mostra contundentemente essa triste realidade de soldados que se 'apegam' a guerra e não conseguem mais lidar com a rotina banal).



Os já comentados planos-sequências se referem ao voos dos pilotos da Marinha. Robson ousa ao não fazer uso de trilha sonora e usar apenas o som diegético o som provindo dos elementos d a história, nesse caso, o som dos próprios aviões), tanto nas missões rotineiras quando na derrubada das pontes, criando genialmente uma tensão a partir do mais próximo que se pode chegar do real. Assim há a guerra, vidas estão em risco, e a tensão provém genuinamente desses fatos. E os planos são longos, podem ser ditados como a essência do filme, sem a exploração do sensacionalismo ou da tensão exacerbada. É um filme dito 'lento', com uma tensão que eu diria contínua, sem ápices de glória maniqueístas.

William Holden nunca foi um ator brilhante, seu aspecto frio por vezes o distancia dos seus papéis, mas nesse caso, assim como em Crepúsculo dos Deuses, a frieza e o distanciamento de Holden o ajuda na composição de um homem frustrado. Grace Kelly nos entrega uma atuação amorosa e roubas as cenas, ela aparece relativamente pouco, mas brilha quando o faz. E Mickey Rooney, contido ou expansivo quando deve ser, tem relativo sucesso ao encarnar esse personagem tão complexo.

Por essas característcas, As Pontes de Toko-Ri é uma boa indicação para os interessados não apenas no cinema clássico (que quase sempre vale a pena ser visto, se não for pela qualidade, pelo menos pela curiosidade histórica) mas também para as discussões levantadas de uma forma madura e consistente e pela parte técnica impecável.



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