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10/06/2010

Férias Frustradas de Verão (2009)



Em 2004, Mark S. Waters lançou Meninas Malvadas, uma comédia adolescente que satiriza todas essas bobagens sobre adolescentes norte-americanos lançadas por aí, com os estereótipos de sempre: a menina loura, peituda e popular, o cara esportista e malhado, a gordinha comilona, o nerd esquecido e a menina boazinha e bonita que tenta se integrar no grupo. O filme, apesar de algumas falhas, foi bem recebido e serviu ao mesmo tempo como alívio e reflexão para o espectador mais atento, farto de filmes como American Pie e suas continuações esdrúxulas. A obra de Waters ficou no limbo, criticou, mas não conseguiu elevar o patamar das comédias adolescentes, talvez a sua mensagem não tenha ficado tão clara e o filme foi visto apenas como mais um do tipo. Eis que então surge Greg Mottola com o seu Superbad - É Hoje , um filme que foge ao máximo da plasticidade acéfala que infestou a produção de filmes adolescentes para as massas. A fita, lançada em 2007, humaniza seus personagens e trata os jovens com comprometimento com a realidade dessa idade tão conturbada, apesar dos clichês ainda existentes, mas nada comprometedores. O mesmo acontece, ainda num grau maior, com Férias Frustradas de Verão.

A boa surpresa de 2009 é uma autobiografia de Mottola, que trabalhou, nos anos 80, no parque de Farmingdale, New York. O ano é 1987, James Brennan (Jesse Eisenberg) acabou de se formar na faculdade e está mais do que preparado para viajar para a Europa e curtir ao máximo, e quem sabe, perder a virgindade. Tudo vai por água abaixo quando seus pais noticiam que estão em más condições financeiras e não irão poder arcar com a tão sonhada viagem. Ao invés disso, ele vai ter que arrumar um emprego sem ter quase nenhuma experiência. O frustrado garoto acaba conseguindo um trabalho em um parque de diversões fuleiro, onde os donos sabotam os brinquedos para que as pessoas não ganhem os melhores prêmios (o humor sutil do diretor é louvável). Lá ele conhece a linda e problemática Em (Kristen Stewart), que não se dá bem com a família e ainda mantém um caso com Connell (Ryan Reynolds), um homem casado.


É incrível como o diretor coloca seus personagens em situações tão próximas do espectador. Logo na primeira cena, temos um close de Brennan que está sendo dispensado pela namorada, seu rosto com uma expressão insegura já é um prelúdio de toda a obra, que gira em torno do crescimento desses jovens, das descobertas, frustrações e claro, dos amores. Brennan se mostra retraído, mas disposto a encarar as dificuldades de um primeiro emprego, de lidar com os mais diversos tipos de pessoas e fazer novas amizades, seja com um nerd judeu ou com uma gostosona burrinha. Já Em é a personagem mais interessante do longa, sua vida vazia com o pai ausente, a madrasta megera e o frio namorado vai sendo mostrada aos poucos, e a atuação de Kristen aqui é essencial para o cunho da personagem, seu jeito fechado e o fato de não encarar os outros nos olhos ajuda na construção de Em (condição que também ajudou a moça em Crepúsculo). A personagem é ainda mais tímida que Brennan e completamente frustrada, com lágrimas que ficam sempre nos olhos, uma menina forte que contém as emoções. Interessante notar também que apesar de ter uma ótima condição financeira, ela trabalha no parque, mostrando assim que precisa ao máximo se distanciar dos familiares e ter autonomia, e seu frágil relacionamento com Connell apenas evidencia o seu desejo de estabilidade, porém descompassado (mas compreensível) por se envolver com alguém já comprometido e com a vida feita.



Os coadjuvantes também não estão lá gratuitamente. Martin Starr interpreta um nerd judeu que sofre por causa do preconceito e até para a gostosa Lisa P (Maragarita Levieva) é dada uma dimensão mais razoável, uma personagem que poderia ter sido facilmente levada a ter as atitudes mais previsíveis nas mãos de algum outro diretor amante da plasticidade imbecil, degradante, incoerente e mítica do submundo adolescente. O filme também dispensa as irritantes gags e deixa a virgindade do protagonista em segundo plano, uma decisão acertadíssima em vista do que o filme propõe, que é algo muito menos superficial e óbvio do que um garoto louco para transar.


'Férias Frustradas de Verão' é mais contundente e maduro do que filmes que, a primeira vista, tem uma temática mais adulta, como Ele Não Está Tão Afim de Você de Ken Kwapis, que apesar de conter boas seqüências, peca pela superficialidade ao tratar a insegurança dos adultos em relação ao amor, com situações forçadas e frases de efeito. Nick & Norah: Uma Noite de Amor e Música é outro bom exemplo de filme adolescente acima da média, o filme chega perto da obra de Mottola quando se trata do tom natural da relação que se desenvolve entre os protagonistas, mas também peca pelo mau uso dos coadjuvantes, algo que o diretor do filme aqui criticado consegue tirar de letra, pelo menos se comparado ao grande lixo tóxico que chega ao mercado.

1 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Muito bom seu texto, me deixou mais ligado na proposta deste filme - e, só pela presença da Kristen, cativa!