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24/05/2010

Fama (1980) - Direção: Alan Parker

Um musical muito bom que preenche bem as características que o gênero iria adquirir a partir da década de 70, na mesma linha de All That Jazz, tratando de temas pesados. O filme aborda dramas familiares e jovens comuns em busca do estrelato, claro, com os devidos percalços no caminho. O glamour essencial se extinguira do gênero, tornando-o mais próximos aos dramas reais, com os números musicais sendo feitos dentro de situações realmente possíveis. Pena que o gênero perdeu a força, ressuscitando uma vez ou outra.


































E falando em All That Jazz, aqui vai minha crítica do filme:


All That Jazz - O Show Deve Continuar (1979)

O gênero musical entrou em decadência no final dos anos 60. A partir da década de seguinte Hollywood abriria mão dessas produções glamorosas e muitas vezes um tanto ingênuas para dar lugar a filmes com uma vertente mais pessimista, 'suja', política e consequentemente mais realista. A Época de Ouro tinha se acabado. Entretanto, esse gênero não desapareceu por completo, em meados da década de 70 alguns bons exemplares foram produzidos, impulsionando assim a válida tentativa de não enterrar esse gênero que marcou a indústria cinematográfica, e um desses bons exemplos é All That Jazz.

Dirigido pelo escritor/diretor/coreógrafo Bob Fosse, a trama é um relato quase autobiográfico do próprio diretor, na tela interpretado por Roy Scheider. Joe Gideon (Scheider) é um coreógrafo perfeccionista que está produzindo um grande musical, mas ao mesmo tempo vive uma vida regrada de anfetaminas, cigarros e mulheres; entre os vários ensaios para a peça, Joe passa por poucas e boas em virtude dos vícios e do alto estresse, principalmente pelo fato de exigir demais de si mesmo, como qualquer outro gênio ou amante da profissão.















O Show Deve Continuar não é um musical convencional por várias razões. A primeira delas e também a mais marcante é que a maioria dos números musicais nos são apresentados durante os ensaios frustrados coreografados por Joe, não há glamour nas roupas dos dançarinos ou nos cenários, há apenas o trabalho árduo e a beleza de seus corpos suados. Com certeza esse é um aspecto revolucinário do gênero, que se esquivou da maneira como os musicais eram produzidos nas décadas anteriores, onde os números eram perfeitos e os dançarinos não derrubavam uma gota de suor. Outro motivo por esse ser um filme que marcou uma nova etapa do gênero é o fato de que os números dançantes não se sobrepõem a trama em si, muito pelo contrário, a vida cheia de prazeres (e sofrimentos) carnais de Gideon é retratada com muita solidez, não servindo como apenas um pretexto para os números musicais (diferente do que acontecia na época de Ouro de Hollywood, quando em muitas ocasiões tínhamos enredos pífios, como nos filmes de Minnelli).

O filme que seria o divisor de águas do gênero foi feito sete anos antes, o estonteante Cabaret. A obra, também de Fosse, abordaria aspectos inimagináveis para um musical: bissexualidade, política (no caso, o nazismo), promiscuidade e linguagem chula; Fosse até fez questão de 'separar' os números musicais realizados num cabaré do enredo em si, mas claro, sempre criando algum tipo de ligação entre as canções e a trama. Esses dois filmem podem ser classificados de "musicais alternativos", justamente por causa dessa separação, tornando os números mais justificados.

Mesmo sendo um musical, o filme pode se encaixar perfeitamente na onda pessimista (e realista) que dominou o Cinema a partir da década de 70. Logo na primeira cena vemos Joe conversando com o Anjo da Morte (Jessica Lange no auge de sua beleza), os dois falam sobre a vida do coreógrafo, fazendo um mapeamento de sua vida, Gideon não parece estar arrependido de nada. Esse aspecto negativo é bastante reforçado nas repetidas cenas com cortes rápidos e precisos em que Joe toma suas pílulas, coloca um colírio, toma banho com um cigarro na boca e logo depois se olha no espelho e diz: "Hora do show!". Esses cortes inesperados também são uma das marcas de "Cabaret", geralmente após alguma fala ou diálogo marcante seguida por um número musical bizarro no cabaré Kit Kat klub.












O espectador pode perceber óbvias referências as obras de Fellini na película de Fosse, a mais evidente é como ele realiza de uma forma fantástica a mistura de realidade com fantasia, por exemplo, nas cenas com o Anjo da Morte ou quando ele relembra a juventude (outro aspecto parecido com o do filme de Fellini). É certo que a obra do diretor italiano que serviu como maior referência é Oito e meio, que possui um enredo parecido com o do musical. Ambos mostram um diretor frustrado com sua vida pessoal e artística, em que não consegue achar inspiração para sua obra e é constantemente cobrado por si mesmo e pelas pessoas à sua volta.

Roy Scheider está maravilhoso, com uma expressão sempre dividida entre os prazeres e a insatisfação, ele consegue com sucesso passar para o espectador a vida instável de um artista genial, onde há (quase) sempre um preço a se pagar. Jessica Lange também se mostra competente ao contracenar com Scheider, como se ela fosse sua psicanalista ou apenas uma amiga misteriosa. Destaque também para Ann Reinking, que interpreta um dos affairs de Joe, ela e a filha pequena do diretor brilham em todo o filme, porém na cena onde as duas fazem um número improvisado para animar o estressado artista é simplesmente maravilhosa, lembrando Liza Minnelli no número Mein Herr do já supracitado "Cabaret". E nada de glamour, pelo menos não o glamour convencional.

All That Jazz é isso, um musical realista e um dos responsáveis pela sobrevivência do gênero. Uma obra muito bem dirigida por Bob Fosse e com uma ótima edição, sem prolongar desnecessariamente as cenas que poderiam se tornar piegas.

Na década de 80 e 90 foram produzidos pouquíssimos musicais relevantes, apenas agora na virada do século é que houve uma nova injeção de ânimo e criatividade, com obras inspiradíssimas como Moulin Rouge e Chicago (com o glamour todo de volta), só nos resta esperar para ver se mais idéias criativas produzirão essas películas cantantes e dançantes que marcaram tanto a história de Hollywood, com suor e realismo ou não.

1 comentários:

Alan Raspante disse...

Vi esse filme a pouco tempo e realmente ele é muito bom! xD
Fiz até uma resenha dele, está lá no meu blog!
Abs.